Durante a última etapa da gravidez, a família inteira "futura mamãe, futuro papai, avós, tios" vivem momentos de ansiedade, emoção e comoção, perante a eminente chegada do novo integrante. A prolongada e tão ansiada espera de nove meses está a ponto de se finalizar. O parto aproxima-se e é hora de ir finalizando os detalhes: preparar o enxoval, comprar a roupinha que falta, organizar a mala que vai levar para a maternidade, e decidir quem ficará encarregado de avisar a família e os amigos quando o grande momento chegar. Esse, tão esperado, mas por sua vez tão temido.
De filha a mãe
Não há dúvida de que a
gravidez constitui a maior expressão de feminilidade num dos seus dois
aspectos: o maternal. A partir do nascimento do filho, cumpre-se plenamente com
essa disposição biológica e psicológica. No entanto, a chegada do bebê implica
também uma mudança quanto aos modelos de identificação anteriores: por um lado,
a mulher identifica-se com a sua mãe, e por outro com o seu filho por nascer.
Ao converter-se em mamãe, "deixa de ser filha", e isso provoca um
profundo impacto na sua identidade. Já em 1951, Marie Langer disse: "...
se conseguirmos educar filhas saudáveis, que podem aceitar com prazer a sua
feminilidade, podemos esperar que a gravidez e o parto sejam o último sucesso
das suas faculdades biológicas, com a plena consciência de viver a grande
experiência de ter gerado e alimentado dentro de si, um novo ser e lhe ter dado
a vida".
Na "sala de
espera" da vida
Nas semanas ou dias
anteriores ao parto, mãe e filho encontram-se na "sala de espera" da
vida. A mamãe tem vontade de conhecê-lo, de tê-lo nos braços, de dar forma e
rosto a uma imagem largamente representada, esperada e fantasiada. Mas ao mesmo
tempo, esta etapa final enche-a de sentimentos de temor e incertezas, que podem
expressar-se como curiosidade acerca do dia em que o seu bebê nascerá, e se
será menina ou menino, se ainda não o sabe. O certo é que, para além dos
matrizes pessoais, alguma ansiedade pode considerar-se "universal",
dado que é compartilhada por quase todas as mulheres, pelo menos na nossa
cultura.
Temores universais
Cada etapa da gravidez
encerra ansiedades e temores típicos. No primeiro trimestre, a futura mamãe
deve enfrentar o medo de um eventual aborto espontâneo, com a consequente perda
da gravidez. O segundo, por sua parte, constitui uma espécie de "meseta",
dado que os temores mais intensos ficaram para trás. Mas com o começo do
último, os fantasmas reaparecem novamente. Desta vez, relacionados com o temor
à morte, à dor e ao "esvaziamento".
A angústia da separação
A gravidez desperta na
mulher as angústias mais precoces; principalmente, aquelas ligadas à relação
com a sua mãe. Para a futura mamãe, o momento do parto não só implica reviver o
próprio nascimento, quando foi separada da sua mãe, como também que "em
breve" deverá separar-se desse filho que transporta dentro do seu ventre.
Surge assim o aspecto mais traumático: a "angústia da separação",
fonte de quase todas as angústias posteriores que hão de aparecer ao longo da
vida. A sensação de desamparo que a parturiente alguma vez experimentou será
vivida desta vez pelo seu filho, enquanto ela sofre porque não pode continuar a
protegê-lo - como até agora - dos maus acontecimentos da vida. Estes
sentimentos, que se manifestam através da tristeza pela perda da barriga,
representam o começo de um duelo: no momento do parto "ganha-se" um
filho, mas "perde-se" o estado da gravidez. Paralelamente,
experimenta-se uma sensação de esvaziamento, de castigo pela sexualidade e,
sobretudo, do temor por enfrentar esse desconhecido que é o filho.
Sentir-se mamãe
A mulher, que no início da
gestação temia fracassar no seu futuro papel de mãe ou duvidada acerca da sua
capacidade para ter um filho, começa a gora a perturbar-se porque a gravidez
está próxima do fim. É neste momento que reaparecem os medos das primeiras
semanas, ao sentir que deve enfrentar o exame final para "sentir-se
mamãe". A sua parte madura deseja a chegada do seu filho e apura os
preparativos para desfrutar desse filho tão desejado e à volta do qual, teceu
tantas fantasias e expectativas. Mas, ao mesmo tempo, o seu lado infantil
recusa o parto por medo à dor. Um medo cujas raízes são, na verdade,
inconscientes.
O medo à dor
O medo da dor é um dos
grandes fantasmas relacionados com o parto. E aqui encontramo-nos perante um
grande paradoxo. Por um lado, com o mandamento ancestral "parirás os teus
filhos com dor" que, apesar dos grandes avanços conseguidos nas técnicas
de anestesia, ainda continuam vigentes. As futuras mamães têm assumido que o
parto "tem de doer"; a tal ponto que muitas vezes quando se lhes pergunta
porque não chegaram antes à maternidade, respondem: porque não me doía, como se
essa fosse essa a condição. No outro extremo, com a crença de que o curso de
preparação garante um parto sem dor, embora isto tão pouco seja certo. Se bem
que cada mulher tem um limiar de dor diferente, em todos os partos se produz
uma certa quota de dor física, que cada uma experimenta de maneira pessoal. Não
obstante, e para além das angústias e dos medos, não devemos esquecer que se
trata de um processo natural e maravilhoso, para que se preparou durante nove
meses. Assim, chegado o momento, assistidas por uma adequada assistência
profissional, poderemos tolerar melhor os medos e desfrutar de uma das
experiências mais fascinantes da vida.
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